Num certo dia, Fortunatella não estava muito bem então como o único médico de Saracena não estava sua avó resolveu chamar o padre, ele viu suas manchas vermelhas pelo corpo e logo diagnosticou com sarampo, ele recomendou repouso, nada de vento nem sol e muito leite de cabra.
Depois de algumas semanas de repouso Fortunatella estava ansiosa para contar as amigas sobre a doença que ela estava. As amigas não se entusiasmaram, pois desta vez era elas que tinham uma novidade para contar. Falaram que enquanto Fortuntella estava doente apareceu na aldeia uma mulher que sabia ler com a ponta dos dedos, ela ficou muito curiosa em conhecer essa moça, então as amigas falaram que ela vai todas as terças na igreja e perguntaram se Fortunatella gostaria de ir, ela nem pensou duas vezes e logo aceitou.
Chegando o dia foram para igreja, Fortunatella ficou ansiosa a espera da moça que estavam falando. Ela caminhava devagarinho pelo corredor, apoiada em uma bengala. Abrindo um enorme livro realizou o milagre, tocou com os dedos em folhas totalmente brancas, sem nenhuma palavra escrita apenas pontinhos em relevo.
Fortunatella foi correndo contar a novidade para seu avô astrônomo, ele não se espantou, era um homem que lia muito então tinha conhecimento de muitos assuntos. Ele explicou que essa moça é cega e aprendeu a ler de maneira diferente das outras pessoas, cada pontinho é uma letra, uma reunião de pontinhos é uma palavra e caminhando os dedos sobre esses pontinhos vai decifrando as frases.
Fortunatella ficou perplexa e muito interessada em saber como era ler com as mãos, seu avô que falou que enxergar é uma benção e não devemos reclamar pois Deus pode castigar mas se quiser pode aprender a ler o mundo com os dedos, pois temos tato então basta tocar, apalpar e sentir.
Então apartir daquele momento apalpar as coisas virou sua nova brincadeira, fechava os olhos e tateava. Assim foi aprendendo a conhecer a lisura de uma folha de papel, as nervuras de uma folha de árvore, o calor de uma cinza da lareira, o veludoso da pele do meu rosto, o fofo do miolo do pão, a aspereza de uma pedra na rua, fluidez da água da fonte...