Voz off: Nunca gostei de arriscar. De ser rebelde, ser temporariamente irresponsável, fazer algo de diferente só porque sim. Sempre tive o cuidado de considerar as melhores opções e de pensar bem antes de tomar qualquer decisão. Sempre acreditei que nada de mal me poderia acontecer, desde que estivesse bem preparada. Não era, como hoje se diz, ficar na zona desconforto, mas permanecer na zona de segurança. Nem sequer costumava beber álcool e nas raras ocasiões em que bebia, ia para casa com amigos ou de transportes públicos.
Voz off: Julgava aqueles que tinham acidentes devido a um descuido, por testarem o álcool ou esquecerem que o tinham ingerido. Até que um dia a testada fui eu. Fui sair com os amigos. Algumas cervejas, muita animação. Contudo, não pensei que tivesse ultrapassado o meu limite. Na minha mente, eu estava bem. Acreditei que estava apta para conduzir. Esse foi o meu primeiro erro.
Voz off: Lembro-me do som frio da água a bater no vidro. Tinha começado a chover intensamente, mas não dei importância.
Voz off: A voz alegre do vento deu-me uma sensação de falsa confiança.
Voz off: A cinco minutos de casa, numa curva com pouca visibilidade, um carro apareceu inesperadamente. Talvez por distração minha ou por presunção de solidão num caminho com pouco trânsito. Talvez por causa do sobressalto ou da fraca noção de distância entre os carros. Agora tenho consciência de que o álcool no sangue me impediu de reagir.
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Voz off: Quando tentei desviar-me, choquei bruscamente com uma árvore. Fiquei desnorteada e assustada. Demorei alguns dias a aperceber-me de que podia ter sido muito pior. Ninguém morreu. Ninguém ficou gravemente ferido,mas a responsabilidade era minha. O preço a pagar era meu. Sei que aquele acidente poderia ter sido evitado e tenho consciência de que muitos não tiveram a mesma sorte que eu. Não deveria ter arriscado. Não quero que a consequência seja a minha vida. Nem a sua. Se beber, não se ponha à prova.